quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Julgamento

Sento-me na cadeira central do tribunal, olho para o Juiz, mas infelizmente não posso vê-lo. Ninguém pode.
O promotor se aproxima de mim. "Nunca foi tão fácil ganhar uma causa para mim." É o que ele me diz.
Olho para o júri, todos eles me olham com cara de indignação, repulsa, nojo, desprezo, ódio. Procuro pelo meu advogado. Não possuo um. Ninguém iria ser louco o suficiente para me defender. Uma causa perdida como a minha sujaria o currículo de qualquer um.
Todas as provas são contra mim, todas as evidências são contra mim, todas as testemunhas são contra mim. Nada ao meu favor.
O Juiz pergunta o que o promotor tem a dizer, ele me aponta e diz:
"CULPADO!"
O Juiz pergunta o que o júri tem a dizer, eles me apontam e dizem:
"CULPADO!"
O Juiz pergunta o que as testemunhas tem a dizer, elas me apontam e dizem:
"CULPADO!"
O Juiz pergunta o que tenho a dizer, e eu digo:
"CULPADO!"
Espero a condenação do Juiz e torço para que o veredicto seja a morte, mas Ele me condena a algo muito pior:
"Perante a todos aqui presente, eu lhe condeno a toda a eternidade sem Ela. A viver o todo sempre sem Ela. A permanecer na vida sem Ela."
Eu abaixo minha cabeça e peço por uma pena mais branda. Imploro por um veredicto mais leve. Suplico pela condenação a morte.
Porém o Juiz, desta vez é impiedoso (com toda a razão), se levanta e sai do tribunal. Apelo ao júri, contudo eles se levantam e saem do tribunal. Peço ao promotor, ele ri e sai do tribunal.
Olho ao redor e me vejo em uma cela. Uma cela sem grades ou paredes. Uma cela sem guardas ou vigias. Simplesmente uma cela, onde serei obrigado a viver sem Ela.
Notliada “Dragon” Castle

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Fichário Mágico Azul

Se eu colocasse aqui exatamente como eu a conheci estaria mentindo. Não lembro todos os detalhes, mas me lembro a essência. E é isso que importa, e não se naquele dia fazia sol ou chuva (apesar de lembra que fazia um sol miserável lá fora), ou se naquele dia eu havia almoçado ou apenas comido um hamburgue. Não, isso não importa. O que importa foi como eu conheci, como conheci aquela que um dia iria me mostrar tudo de belo na vida.

Lembro-me de que por algum motivo eu havia sentado na frente naquele dia, se não me engano era o terceiro ou quarto dia de aula (Essa precisão já se perdeu na minha memória). Me virei e pedi uma borracha emprestada a uma menina. Uma menina com uma camisa azul, com o cabelo preço de uma forma interessante, que eu não saberia descrever e nem sei ainda, mas da forma que ela costumava prender (este cabelos mais tarde lhe rendeu o apelido de S. Bethânia). Ela se virou e abriu o fichário azul, era um fichário mágico, eu sempre dizia isso. Naquele fichário ela conseguia me tirar de tudo. "Tem uma caneta?" Ela abria o fichário e pegava uma caneta. "Tem corretivo?" Ela abria o fichário e pegava um corretivo. "Tem tesoura?" Novamente ela abria o fichário e pegava uma tesoura. Sempre tinha tudo naquele fichário, sempre. Por isso o apelido de fichário mágico. Parecia o chapéu de Preston do Caverna do Dragão, com a diferença de que o chapéu de Preston era verde e sempre trazia a coisa errada (pelo menos era o que ele achava) enquanto o fichário dela era azul e sempre trazia a coisa certa.

Ela me entregou a borracha e sorriu, com aquele sorrisso timido e meigo que ela tinha e ainda tem. Nunca vou esquecer aquele sorrisso e como ela se virou rápido para frente toda tímida e envergonhada. Não posso lhe dizer que naquele dia eu passei a amá-la, não. Isso eu aprendi com o passar do tempo, mas daquele dia eu havia me apaixonado. Uma paixonite de um garoto com seus quinze anos. Um garoto que não sabia o poder daquela mulher. Um garoto que não sabia o valor dela. Mas um garoto, que mesmo demorando muito tempo para perceber isso, havia visto as coisas mais belas da vida naquele sorrisso, naquele olhar, naquela voz doce (as vezes estressante), naquele jeitinho encantador de ser.

Isto foi só a primeira impressão que eu tive dela. Lógico que depois vieram outras, pois nem tudo na vida são só flores. Porém estas outras impressões eu falarei depois. Até porque na minha vida agora só resto as lembranças e essas eu tenho bastante. Tantos as boas, quantas as más (e eu te digo, até essas fazem falta). Só me restaram as lembranças. As lembranças daquele cabelo Maria Bethânia. Daquele sorrisso tímido e meigo. Daquele fichário mágico azul.
Notliada “Dragon” Castle

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Olhos Vermelhos

São vinte e duas horas, desde as dezenove horas que eu vago por esta cidade fétida. Olho ao redor e vejo mendigos ao chão enrolados em papelões e panos velhos para se aquecer do frio, prostitutas exibem seus corpos feito mercadorias, drogados nos becos, bêbados vomitando nas calcadas e seres mau-encarados na escuridão. Como eu detesto esta cidade! Vim para este lugar por causa de trabalho. Um lugar promissor para um advogado. Tantos crimes que fica impossível não se conseguir um caso, desde um simples assalto ate um serial killer que coleciona orelhas. Pensei que aguentaria viver nesta cidade, mas esta cidade é tão imunda que me enoja. Ouço sirenes! É uma ambulância. Alguém deve ter esfaqueado alguém, ou um jovem deve ter exagerado nas drogas. Vejo uma menininha a frente, que coisa linda. Uma flor no meio do deserto. Uma pequena menina de cabelos dourados cacheados, de pele clara, parecida com uma boneca, passeando sozinha por esta cidade. Que mãe irresponsável! Deixar uma criança sozinha nesta cidade é muito perigoso, a quantidade de maníacos e estupradores é tão grande que estou admirado dela não ter sido atacada ainda. Ela esta olhando para um beco, tem algo lá que a intriga. Não! Tem alguém falando com ela. Quem será? Parece que ele a esta chamando. Não vá! Droga, ela esta indo. Não penso duas vezes se devo ou não socorrer aquela menina. Parto correndo para o beco e observo um homem debruçado sobre a menina.
- Deixe-na!
O homem voltou os olhos para minha direção. Aqueles olhos vermelhos como fogo e possuindo uma intensa maldade, como se toda maldade do mundo concentra-se naquele olhar. Sua boca esta suja, como o beco esta escuro não da para notar de principio do que se trata, mas aos poucos, com um pouco mais de observação. Oh meu Deus! O que encontra-se na boca dele é sangue. Por uma ação mais inconsciente do que consciente olho para a menina desacordada nos braços daquele monstro. Há um ferimento na menina, daquele lindo pescoço escorre gotas de sangue. Se eu estivesse armado com toda certeza do mundo eu abriria a cabeça daquele desgraçado. Só que eu não estou! Desde que eu cheguei nesta cidade todos me dizem que eu deveria anda armado. Se arrependimento matasse? Este é o típico caso em que ele mata! Aquela criatura parte para cima de mim com um velocidade que é animalesca. Não demora muito e sinto suas mãos em meu pescoço, logo percebo que não é só sua velocidade que é animalesca, sua força também é impressionante. Tento escapar, só que é inútil, feito um criança continuo tentando escapar. Só que a única coisa que escapa, ou melhor falta, é o ar dos meus pulmões. Puxo o ar e ele não vêm, puxo novamente e ele não vem! Sinto que a vida esta deixando o meu corpo, meus movimentos tornam-se mais lentos, começo a sentir uma tontura e todas as minhas forcas vão se acabando. Olho para o céu em busca de um milagre. Quem sabe eu tenha feito boas ações o suficiente para que um anjo possa me ajudar. Parece que enviaram um anjo ele vem caindo em minha direção com roupas negras, sorriso nos lábios e os olhos puxados e negros, tão negros como um lago em noite sem luar. Pensando bem isso não é um anjo, é sim a morte.
Notliada