quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Fichário Mágico Azul

Se eu colocasse aqui exatamente como eu a conheci estaria mentindo. Não lembro todos os detalhes, mas me lembro a essência. E é isso que importa, e não se naquele dia fazia sol ou chuva (apesar de lembra que fazia um sol miserável lá fora), ou se naquele dia eu havia almoçado ou apenas comido um hamburgue. Não, isso não importa. O que importa foi como eu conheci, como conheci aquela que um dia iria me mostrar tudo de belo na vida.

Lembro-me de que por algum motivo eu havia sentado na frente naquele dia, se não me engano era o terceiro ou quarto dia de aula (Essa precisão já se perdeu na minha memória). Me virei e pedi uma borracha emprestada a uma menina. Uma menina com uma camisa azul, com o cabelo preço de uma forma interessante, que eu não saberia descrever e nem sei ainda, mas da forma que ela costumava prender (este cabelos mais tarde lhe rendeu o apelido de S. Bethânia). Ela se virou e abriu o fichário azul, era um fichário mágico, eu sempre dizia isso. Naquele fichário ela conseguia me tirar de tudo. "Tem uma caneta?" Ela abria o fichário e pegava uma caneta. "Tem corretivo?" Ela abria o fichário e pegava um corretivo. "Tem tesoura?" Novamente ela abria o fichário e pegava uma tesoura. Sempre tinha tudo naquele fichário, sempre. Por isso o apelido de fichário mágico. Parecia o chapéu de Preston do Caverna do Dragão, com a diferença de que o chapéu de Preston era verde e sempre trazia a coisa errada (pelo menos era o que ele achava) enquanto o fichário dela era azul e sempre trazia a coisa certa.

Ela me entregou a borracha e sorriu, com aquele sorrisso timido e meigo que ela tinha e ainda tem. Nunca vou esquecer aquele sorrisso e como ela se virou rápido para frente toda tímida e envergonhada. Não posso lhe dizer que naquele dia eu passei a amá-la, não. Isso eu aprendi com o passar do tempo, mas daquele dia eu havia me apaixonado. Uma paixonite de um garoto com seus quinze anos. Um garoto que não sabia o poder daquela mulher. Um garoto que não sabia o valor dela. Mas um garoto, que mesmo demorando muito tempo para perceber isso, havia visto as coisas mais belas da vida naquele sorrisso, naquele olhar, naquela voz doce (as vezes estressante), naquele jeitinho encantador de ser.

Isto foi só a primeira impressão que eu tive dela. Lógico que depois vieram outras, pois nem tudo na vida são só flores. Porém estas outras impressões eu falarei depois. Até porque na minha vida agora só resto as lembranças e essas eu tenho bastante. Tantos as boas, quantas as más (e eu te digo, até essas fazem falta). Só me restaram as lembranças. As lembranças daquele cabelo Maria Bethânia. Daquele sorrisso tímido e meigo. Daquele fichário mágico azul.
Notliada “Dragon” Castle